percurso: Iúna, Cantagalo, Fortaleza e Piaçu
(em 21/03/2022)
De Iúna partimos cedo, às 7:40h, após o café da manhã no hotel Catuaí. Saímos para um percurso relativamente leve, em que vamos subir, sem grandes paredões, por 12,5 quilômetros, passando ao lado do pico do Colossus, depois descer, gradativamente, até encontrar o rio Norte, no quilômetro 23,5, e seguir por suas margens até a cidade de Piaçu. No total, serão “apenas” 28 quilômetros, com cerca de 770 metros de ganho acumulado de elevação.
É só uma subida, moleza! — Quem já não ouviu isso?


Neste início de manhã, o céu estava coberto de nuvens de grande altitude, que distriuíam uma iluminação clara e uniforme por toda a paisagem. Após alguns quilômetros, encontramos o primeiro cafezal, vigoroso, com frutos em maturação à beira da estrada.

Neste início de trajeto, seguíamos pelo vale do rio Pardo, subindo e descendo colinas de pouca inclinação, no rumo sul e depois leste, acompanhando aproximadamente a curva brusca que este rio traça, formando um bico agudo na altura de Barra da Perdição, antes de abandonar-nos definitivamente para o sul.
As colinas e aquela suavidade toda só prosseguiu até cerca dos 5,5 quilômetros de percurso, mas deu-nos oportunidade para aquecer a musculatura gradativamente, preparando-nos para o longo trecho de subida que viria a seguir. Enquanto isso, apreciávamos as lindas paisagens do vale, que eram emolduradas por uma silhueta ondulada de nuvens e montanhas, bem contrastada contra um céu platinado por nuvens mais altas e brilhantes.

A partir do sexto quilômetro, já íamos subindo bem depressa e a estrada se estendia ao longo do curso do córrego Boa Vista, cujo nome não poderia ser mais adequado. As silhuetas das montanhas e suas encostas cobertas de cafezais são, efetivamente, muito lindas!

Um pouco mais acima na serra, passamos ao lado de um aqueduto rústico, formado por canos galvanizados já um pouco enferrujados, apoiados sobre colunas simples, feitas de caibros de madeira, que traziam água de alguma nascente da montanha, que não pudemos ver, para algum uso que não pudemos identificar.

Próximo do sétimo quilômetro, avistamos uma linda cascata, que despejava suas águas sonoramente, por entre grandes rochas, logo após uma curva fechada do córrego Boa Vista. A foto abaixo, que publiquei no Instagran há alguns dias, foi comentada pela amiga Tera, que a chamou de “cascata dos duendes”. Adoto então esse nome, que me pareceu bem merecido, pertinente.

Com 8 quilômetros, já havíamos subido 242 metros. Dali avistávamos, à nossa direita, um vale profundo, além do qual uma curiosa elevação de rocha escura e enevoada sobressaía-se. Suponho tratar-se do pico “Seio de Abraão” que, conforme os mapas, fica a alguns quilômetros ao sul daqui.

Esta é, sem dúvida, uma região de montanhas espetaculares, que eu não cansei de fotografar. Naturalmente, me atrasei no pedal e o Sérgio se afastou rapidamente, logo desaparecendo da minha vista.




No meio de tantas fotos e ainda mais imagens para fotografar, minha câmera Canon SX-70HS apresentou uma mensagem de erro que já havia ocorrido algumas vezes, “Erro 70”. Não sei do que se trata, mas, para que a câmera voltasse a funcionar após essa mensagem, precisei retirar a bateria, colocá-la novamente e voltar a ligá-la. Por isso, aproveitei a ocasião para bater mais uma foto, somente para certificar-me de que a câmera voltara a funcionar normalmente. Num acaso feliz, que não é incomum neste tipo de situação, não apenas a câmera respondeu a todos os ajustes e comandos que experimentei, como a foto resultante foi surpreendente: obtive uma imagem clara e cristalina das colinas e da grande rocha que havia por trás, com uma harmonia de formas muito particular, entre o cafezal e a grande formação de granito que está ao fundo.

Com um pouco mais da metade da serra vencida, voltei-me para trás e registrei a vista do vale do rio Pardo, já diminuído pela distância, atrás do cafezal e das rochas que, em diversos pontos, afloram da montanha.

Depois, de um trecho ainda mais alto (aos 10,6km de trajeto) voltei a registrar a vista que eu tinha, olhando na mesma direção. Agora consegui uma visão melhor das baixadas do vale do rio Pardo e das densas nuvens que se acumulavam sobre ele, engrossadas pelo calor do dia, que agora passava dos 30ºC.

Num lugar como este, costuma-se não olhar muito para trás, porque a concorrência das paisagens que estão à frente e aos lados é sempre grande e atrativa. De fato, eu até me perdia de olhar para cá e para lá, sempre divisando lindas paisagens. Havia a mata nativa, com quaresmeiras, fedegosas e eritrinas floridas, além dos cafezais; havia, ademais, as rochas escuras, em afloramentos dos mais variados formatos e dimensões; ainda, um céu de muitos azuis, desenhado de nuvens.


Num “falso topo”, aos 11,5km, a estrada cruzou o córrego Boa Vista e logo voltou a subir, passando agora a acompanhar sua margem direita. O local, sombreado e bucólico, era marcado pela presença de alguns pinheiros, evidentemente não nativos, e uma simpática cerca de madeira, sem qualquer pintura.

Pouco adiante, encontramos um marco da Rota Imperial que registrava a altitude oficial de 1.182 metros, um pouco abaixo do que eu via assinalado no meu GPS, que mostrava um pouco mais, 1.190 metros. É um erro de medição bem aceitável para este tipo de equipamento, algo que consideramos normal.

Depois passamos uma chácara cuja casa deixava exposta a argamassa, sem nenhuma pintura, defeito que era compensado pelo colorido variado de muitas flores, que eram cultivadas em canteiros contidos por pneus velhos, espalhados ao lado de uma rampa de acesso para veículos que tinha, do outro lado, uma espécie de horta, cercada por tábuas de madeira. Mais bucólico que isso, impossível!

Quando fomos nos aproximando do passo da serra, o dia continuava claro e relativamente quente, apesar da altitude mais elevada, que aproximava-se dos 700 metros acima do nível do mar, e da maciça cobertura de nuvens, que a cada momento aumentava.

Só um pouquinho antes de chegar ao ponto mais alto do trajeto e da serra é que cruzamos outra vez – e deixamos para trás – o córrego Boa Vista. Ele sumiu para o lado esquerdo da estrada, na direção de um local próximo, onde vejo, agora, no mapa, o sítio exato de sua nascente.
Logo depois, alcançamos o alto do passo, a 1.290 metros de altitude, onde passa a fronteira de municípios: Iúna para trás; Muniz Freire para o norte, após o pico do Colossus, que está à nossa esquerda; Piaçu, para onde vamos, adiante.

Um pouco abaixo do passo, passamos a acompanhar o córrego que o mapa OSM nomeia (dubiamente) “Córrego Piaçu ou Cantagalo”. Ele vai correndo pelo fundo de grotas estreitas e cobertas de mata, de modo que, do curso dele, nada se vê. Pelo menos é assim nesse início de descida.

As matas, como nota-se por aqui, continuam cheias de quaresmeiras floridas, quase todas da variedade que tem flores roxas, e quase nunca das que têm flores rosadas, não sei porquê.
Aos 14km, a estrada se desvia um pouco para o sul, afastando-se, brevemente, do curso do córrego Piaçu (ou Cantagalo), que entretanto, logo voltará a seguir.

Deste outro lado da serra, a paisagem e o clima permaneciam agradáveis. O céu acumulava cada vez mais poderosos cumulus, que pontuavam com grandes sombras as encostas de montanhas, os cafezais e os afloramentos de rochas.

Numa das paradas para fotografar as montanhas, fiquei ouvindo o canto de um canário, que logo localizei na paisagem. Ele estava pousado num galho seco de um arbusto, a apenas poucos metros para fora da estrada. A variedade Sicalis flaveola brasiliensis – à qual ele pertence – é típica dos estados costeiros do Brasil, desde o Maranhão até São Paulo, incluindo, além desses, o estado de Minas Gerais. Seu nome flaveola significa “amarelinho”, cor predominante do canário macho, que é o gênero que canta, como é comum nos pássaros.

Nesta altura, sabíamos (pelo mapa) estar passando próximos ao distrito de Cantagalo, embora não avistássemos nenhuma edificação. Num certo ponto do caminho, cruzamos e passamos a acompanhar o córrego dos Tombos, onde o córrego Cantagalo (Piaçu) havia acabado de desaguar. Um pouco depois, à nossa esquerda, pudemos apreciar uma bela cascata, que exibia as águas limpas e cristalinas do Cantagalo, que apresentava um fluxo mais de ribeirão do que de córrego.

Isso foi logo antes do Tombos receber as águas do córrego Bom Destino, que contribuíram para aumentar o espetáculo da cachoeira de Tombos, por onde passamos aos 21,3 quilômetros de percurso.

Um pouco antes de encontrarmos o rio Norte, rodeamos uma colina ocupada por pastagens. Na beira de um corte de encosta, havia uma linda árvore de folhagem coriácea, de um verde escuro e profundo, recortado contra o céu.

Depois de rodear esta encosta, viramos numa curva fechada para a esquerda, aos 23,4 quilômetros, deixando a calha do rio Norte à nossa direita e o terreno mais acidentado para trás. Estávamos em território do distrito de Fortaleza e, daqui em diante, circulamos somente pelas ondulações da orla ribeirinha, na direção nordeste, até chegar a Piaçu.

Ao chegar à pequena cidade, paramos num café, do lado direito da rua. Lá nos informamos sobre a cidade e fomos recomendados a uma pousadinha simpática apenas a alguns metros dali. Tomamos cerveja para festejar a chegada, almoçamos e proseamos bastante com o dono do café, que conhecia São Paulo relativamente bem. Mais tarde fomos à pousada tomar banho e descansar. Ele ficava no andar de cima de uma loja ainda não totalmente instalada, onde guardamos nossas bicicletas. As acomodações eram simples, limpas, boas.
À noite choveu e, como não havia muito o que visitar naquela pequena cidade, permanecemos na redondeza e fizemos um lanche, à guisa de jantar, no mesmo café de esquina da nossa chegada. Foi um dia tranquilo, com tempo bom durante o pedal e chuva depois do final, para refrescar. Um clima perfeito!
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