Este é o diário de uma viagem pelo Brasil profundo, compreendendo cerca de 1.455 quilômetros de bicicleta, num percurso que descreveu um arco, desde Parati, no estado do Rio de Janeiro, até Ouro Preto, em Minas Gerais, e depois de volta ao litoral, chegando a Vitória e Vila Velha, no estado do Espírito Santo.
O percurso corresponde ao Caminho Velho da Estrada Real, somado à Rota Imperial São Pedro de Alcântara, donde veio o acrônimo da série, “ER+RI”.

Nos anos que antecederam a expedição, percorri todos os quatro caminhos da Estrada Real, sempre nos sentidos que geralmente os ciclistas e aventureiros preferem, de modo a minimizar a altimetria, tendo obtido o certificado especial do Instituto Estrada Real (correspondente aos quatro caminhos) em janeiro de 2.020.

Após esta conquista, resolvi partir para um novo desafio, de repetir os caminhos da Estrada Real, só que no sentido oposto ao que já tinha trilhado, começando pelo Caminho Velho a partir do litoral. Daí é que surgiu a ideia do projeto ER+RI, acrescentando a, para mim inédita, Rota Imperial.
Nesta primeira parte do projeto, concluída entre setembro de 2.021 e março de 2.022, após um adiamento devido à pandemia Covid-19, percorri o Caminho Velho e a Rota Imperial, que iniciam, então, os presentes relatos.
Mais para adiante, pretendemos completar o projeto com expedições para os três caminhos restantes da Estrada Real – Novo, Diamantes e Sabarabuçu, percorrendo-os sempre no sentido contrário ao que já fizemos, para variar (rs). Aguarde, por este blog, as programações das viagens e fique com os relatos semanais, publicados a cada quinta-feira com um novo dia de aventura!
Estrada Real, Caminho Velho
A Estrada Real, com quatro diferentes caminhos, soma cerca de 1.400km de extensão e foi construída entre os séc. XVII e XVIII.
O caminho velho foi o primeiro a ser construído pela coroa portuguesa, no século XVII, para organizar o trânsito do ouro e dos diamantes produzidos nas Minas Gerais para a Europa. Tem 710km de extensão, sendo 11,5% asfaltado, 6% de trilhas e 82,5% em estrada de chão e é o primeiro dos quatro caminhos que vamos trilhar e relatar por aqui.
Os demais são o Caminho Novo, construído como alternativa para o Caminho Velho, que ligava Ouro Preto ao Rio de Janeiro (hoje percorrido, geralmente, só até Petrópolis, por questões de segurança no trecho final da baixada fluminense), o Caminho dos Diamantes, que ligava Ouro Preto ao Distrito Diamantino, e o Caminho Sabarabuçu, construído para facilitar o deslocamento de produtos e pessoas no interior da região aurífera das Minas Gerais. Estes outros caminhos serão contemplados em etapas futuras do projeto.
Rota Imperial
Já no começo do século XIX, tendo vindo a corte portuguesa para o Brasil, a fim de escapar às tropas de Napoleão, Dom João VI (na época ainda regente) mandou abrir uma nova estrada, a fim de desenvolver e diversificar as atividades na colônia, posto que a exploração do ouro e dos diamantes declinava. A construção se iniciou em 1.815 e foi completada em 1.816 com o nome de Estrada Real São Pedro de Alcântara, com um total de 575km, passando por 17 municípios mineiros e 15 capixabas.
Na feição original, esta estrada real possuía fortificações e abrigos para viajantes a cada 20 quilômetros, mas os sítios originais dessas construções foram perdidos no tempo. Depois da independência do Brasil, por razão óbvia, a denominação da estrada passou de Estrada Real para Rota Imperial São Pedro de Alcântara.
Em 2008, houve uma iniciativa da Assembléia Legislativa de Minas Gerais para implantar, junto com o governo capixaba uma estruturação desta Rota Imperial de modo semelhante ao que fora feito para os caminhos da Estrada Real. Infelizmente, parece que não houve interesse suficiente para o projeto decolar e a rota permanece sem qualquer estrutura oficial para o turismo, tendo sido demarcada somente na parte que cruza o estado do Espírito Santo.
Etapas Diárias da Viagem
O percurso completo dos dois trajetos já percorridos – Caminho Velho e Rota Imperial –, no âmbito deste projeto, foi planejado em 32 etapas que, por força da imprevisibilidade da vida e do destino, precisaram ser separadas em dois conjuntos, com uma viagem em setembro a outubro de 2.021 e outra em março de 2.022 (saiba o porquê disto lendo o blog!) No final de tudo, a realização ampliou as etapas projetadas para 35 dias de bicicleta, mais dois dias de descanso em que não pedalei, totalizando 37 dias de viagem, sem contar os traslados entre São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, efetuados de ônibus, com a querida bicicleta “Faísca” acomodada nos bagageiros.
A aventura totalizou, nas duas viagens já realizadas, 1.455 quilômetros, com 27.534 metros de elevação acumulada, assim distribuídos pelas etapas de viagem:
Etapa do Percurso | Data | Distância Efetiva | Elevação | Distância acumulada | Elevação acumulada |
ER+RI 01 Parati a Cunha | 13/09/2021 | 46,4 km | 1.917 m | 46,4 km | 1.917 m |
ER+RI Descanso em Cunha | 14/09/2021 | Não pedalei neste dia | – | – | |
ER+RI 02 Cunha a Guaratinguetá | 15/09/2021 | 50,8 km | 794 m | 97,2 km | 2.711 m |
ER+RI 03 Guaratinguetá à Vila Embaú | 16/09/2021 | 40,8 km | 489 m | 138 km | 3.200 m |
ER+RI 04 Vila do Embaú a Passa Quatro | 17/09/2021 | 32,9 km | 870 m | 170,9 km | 4.070 m |
ER+RI 05 Passa Quatro, Itanhandu, Itamonte e Pouso Alto | 18/09/2021 | 58,1 km | 908 m | 229 km | 4.978 m |
ER+RI 06 Pouso Alto, São Lourenço e Caxambu | 19/09/2021 | 48,5 km | 843 m | 277,5 km | 5.821 m |
ER+RI 07 Caxambu a Baependi e Cruzilia | 20/09/2021 | 27,7 km | 585 m | 305,2 km | 6.406 m |
ER+RI 08 Cruzilia a Traituba e Carrancas | 21/09/2021 | 70,9 km | 1.307 m | 376,1 km | 7.713 m |
ER+RI 09 Carrancas a Capela do Saco | 22/09/2021 | 28,2 km | 642 m | 404,3 km | 8.355 m |
ER+RI 10 Capela do Saco, Caquende, São Seb. da Vitoria e São João Del Rei | 23/09/2021 | 50,4 km | 926 m | 454,7 km | 9.281 m |
ER+RI 11 São João Del Rei a Tiradentes | 24/09/2021 | 12,8 km | 95 m | 467,5 km | 9.376 m |
ER+RI 12 Descanso em Tiradentes | 25/09/2021 | 37,9 km | 143 m | 505,4 km | 9.519 m |
ER+RI 13 Tiradentes, Bichinho e Prados | 26/09/2021 | 19,4 km | 319 m | 524,8 km | 9.838 m |
ER+RI 14 Prados, Lagoa Dourada e Casa Grande | 27/09/2021 | 52,7 km | 1.213 m | 577,5 km | 11.051 m |
ER+RI 15 Casa Grande, Serra do Camapuã e Entre Rios | 28/09/2021 | 31,6 km | 678 m | 609,1 km | 11.729 m |
ER+RI 16 Entre Rios, S. Brás do Suaçuí e Congonhas | 29/09/2021 | 45,8 km | 1.012 m | 654,9 km | 12.741 m |
ERRI15-EntreRios-CongonhasER+RI 17 Congonhas, Miguel Burnier, Eng. Correia e Santo Antônio do Leite | 30/09/2021 | 51,5 km | 1.035 m | 706,4 km | 13.776 m |
ER+RI 18 Sto Antônio do Leite, Cach. Campo, Glaura, S. Bartolomeu e Ouro Preto | 01/10/2021 | 47 km | 1.323 m | 753,4 km | 15.099 m |
ER+RI 19 Descanso em Ouro Preto | 02/10/2021 | Não pedalei neste dia | – | – | |
ER+RI 20 Ouro Preto, Mariana, Mons. Horta, Furquim e Acaiaca | 03/10/2021 | 63,4 km | 536 m | 816,8 km | 15.635 m |
ER+RI 21 Acaiaca, Filipe dos Santos, Matipezinho, Cedro, Quebra-Canoa e Ponte Nova | 04/10/2021 | 43,3 km | 750 m | 860,1 km | 16.385 m |
ER+RI 22 Ponte Nova, Oratórios, Piscamba e Jequeri | 05/10/2021 | 35,2 km | 827 m | 895,3 km | 17.212 m |
ER+RI 23 Jequeri, Grota, Cach. do Livramento e Abre Campo | 06/10/2021 | 40,6 km | 891 m | 935,9 km | 18.103 m |
ER+RI 24 Abre Campo, Cach. Livramento, Padre Fialho e Santa Margarida | 07/10/2021 | 43,5 km | 1.040 m | 979,4 km | 19.143 m |
ER+RI 25 Santa Margarida, Sto Amaro de Minas e Realeza (Manhuaçu) – Bike com problema | 08/10/2021 | 27,1 km | 370 m | 1.006,5 km | 19.513 m |
ER+RI 26 Realeza a Santo Amaro de Minas e Santa Margarida (retomada da Rota Imperial) | 17/03/2022 | 28,3 km | 675 m | 1.034,8 km | 20.188 m |
ER+RI 27 Santa Margarida, São João do Manhuaçu, Pontões e Manhumirim | 18/03/2022 | 50,3 km | 1.085 m | 1.085,1 km | 21.273 m |
ER+RI 28 Manhumirim, Rio Claro, São João do Príncipe e Pequiá | 19/03/2022 | 30,4 km | 727 m | 1.115,5 km | 22.000 m |
ER+RI 29 Pequiá, Santa Cruz de Irupi, Irupi e Iúna | 20/03/2022 | 43,5 km | 748 m | 1.159 km | 22.748 m |
ER+RI 30 Iúna, Cantagalo, Fortaleza e Piaçu | 21/03/2022 | 27,7 km | 771 m | 1.186,7 km | 23.519 m |
ER+RI 31 Piaçu, Monforte Frio, Córrego Grande e Conceição do Castelo | 22/03/2022 | 27,1 km | 865 m | 1.213,8 km | 24.384 m |
ER+RI 32 Conceição do Castelo, São João de Viçosa, Venda Nova do Imigrante e Barcelos | 23/03/2022 | 42,9 km | 911 m | 1.256,7 km | 25.295 m |
ER+RI 33 Barcelos a Domingos Martins | 24/03/2022 | 86,4 km | 1.199 m | 1.343,1 km | 26.494 m |
ER+RI 34 Domingos Martins, Viana, Vitória e Vila Velha | 25/03/2022 | 67,5 km | 795 m | 1.410,6 km | 27.289 m |
ER+RI 35 Passeios em Vila Velha | 26/03/2022 | 19,3 km | 161 m | 1.429,9 km | 27.450 m |
ER+RI 36 Vila Velha a Vitória (retorno para casa) | 27/03/2022 | 25,7 km | 84 m | 1.455,6 km | 27.534 m |
Em cada episódio desta série, narramos um dia da aventura, com fotos, mapas e descrições dos lugares por onde passei e relatos sobre as pessoas e lugares que nos marcaram. Viva comigo esta grande aventura, todas as quintas-feiras, um novo episódio!
Luiz, que maravilha! Estou conhecendo esse seu blog agora. Adoro suas fotos, são bárbaras. Fiquei com inveja (no bom sentido) dessa viagem. Vc fez de uma tacada só? “Quando eu sê grande vou querer fazer também!”
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Oi, Silas!
Fiz a viagem em duas etapas, sendo que em dois pedaços de cada etapa, tive alguma companhia.
A primeira etapa foi de Paraty a Ouro Preto (Caminho Velho) e daí a Santa Margarida (Rota Imperial), onde precisei interromper devido a um problema na bicicleta. Nesta etapa, tive a companhia da Bia e dos amigos Augusto e Cacá para o trecho de Caxambu a Tiradentes, sendo que o restante fiz sozinho.
A segunda etapa foi de Santa Margarida a Vila Velha, em que tive a companhia do Sérgio do CAB.
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